Rotina
Nos vimos pela última vez, nos beijamos pela última vez antes de eu partir. Eu queria ficar ali na eternidade. Para sempre, nos braços do meu ídolo, como eu sempre quis. Alex beijou minha testa como forma de proteção, e então eu dei meu último abraço.
Quando virei para ir embora confesso que uma lágrima dos meus olhos saiu. Eu estava apaixonada certamente, e isso não era bom, de alguma forma. Entrei no meu carro e coloquei para ouvir justo a música dele, a que mais me tocou. Wherever you will go. Essa música era a mais triste para mim, assim como Euphoria. Mas resisti, apenas havia colocado para me distrair enquanto ia para casa. Chegando em casa, meio deprimida me deparo com Juli e Maya me esperando. Pude então perceber que de certa forma elas estariam preocupadas comigo. Estacionei meu carro em frente de casa e segui para elas, elas sentiram que eu estava para baixo e me encheram de perguntas. Abracei às duas e comecei a chorar lembrando de todos os momentos, todas às sensações, de tudo o que eu pude sentir na noite anterior. Maya então insistiu em perguntar o que tinha acontecido e minha resposta foi única e curta:
- Vocês não acreditam em mim, não adianta eu me explicar pois é tempo perdido. - Me afastei delas.
- Ué, nós viemos aqui para saber o que aconteceu realmente e estamos aqui para te ajudar! - Indagou Maya.
Juli apenas concordou com Maya.
- Eu não estou preparada para contar para vocês, preciso de um tempo para pensar. - Falei limpando minhas lágrimas.
Elas já estavam preocupadas, realmente. Notei a expressão no rosto de cada uma.
- Você não quer nos contar mesmo então? Tudo bem, respeito o seu tempo. Acho que devemos ir embora agora. - Falou Maya, ela parecia meio brava.
Apenas levantei o olhar e pensei. Logo argumentei:
- Maya, você se lembra quando lhe contei do acontecido no acústico do Alex? - Levantei a sobrancelha direita.
- Lembro sim... O que houve? - Perguntou Maya.
- Pois então, você não quis dizer que eu estava louca, que isso era impossível? Não adiantaria eu contar para vocês que passei o melhor fim de semana da minha vida com o meu ídolo, digamos. Não adiantaria não é mesmo? Pois a louca da história seria eu novamente. - Suspirei em tom de revolta.
Saí, deixei as duas ali e abri a porta da minha casa. Por último virei e disse "Se quiserem entrar, entrem.".
Entrei em minha casa, pude sentir o aroma docinho assim que dei o primeiro passo. Nisso Myle veio correndo para mim, com fome e carência. Pois eu nunca tinha deixado ele sozinho por uma noite. Mesmo quando eu fosse para festa, logo ele sabia que eu estaria de volta. Myle estava morrendo de saudade e não saía mais dos meus pés.
Enchi seu pote de comida e ele então foi faminto comer.
Pude perceber que Juli e Maya estavam conversando lá fora. Não me importei, talvez estivessem falando da minha suposta loucura.
Entrei em meu quarto e joguei minha bolsa em cima da cama.
Logo fui para sala assistir TV.
Sentei-me no sofá. Malditos sofás. O que veio em primeiro foi as lembranças de certo sofá em certo apartamento, com certa pessoa. Aghh! Que ódio eu estava sentindo de mim mesma.
Liguei a TV e coloquei no volume bem alto, caso Maya e Juli quisessem conversar, o assunto delas não me interessaria.
Juli entrou pela porta, em seguida Maya.
Sentaram no sofá e ficaram olhando seriamente para mim, enquanto eu olhava a TV.
Até que tirei o olho da TV para perguntar à elas o que estavam querendo.
- O que querem? Podem me deixar sozinha?
- Nós queremos saber o que houve. Você está diferente, estranha, agindo friamente com suas únicas amigas, suas irmãs que sempre te apoiaram. - Disse Juli movimentando as mãos ao falar.
- O que fazer quando minhas irmãs, amigas, colegas, conhecidas, não acreditam em mim? Me diz o que fazer, eu faço. - Olhei para elas e imediatamente para a TV.
- Nos conte o que aconteceu que prometemos não opinar! Mas estamos preocupadas com você. Apenas isso. - Disse Maya. Juli apenas abanava a cabeça que sim.
Então contei à elas que aquela noite de sábado, nunca mais seria a mesma. Contei do meu encontro com o Alex no pub aquela noite em que Juli não foi. Contei à elas o que houve depois do vinho. Os detalhes mais preciosos da minha vida, mais intimo. Eu contei. Seja o que Deus quiser, pensei.
Elas pareciam acreditar em mim agora. Então dei um voto de confiança para as duas. Porque era apenas em Juli e Maya que eu confiava. Que eu contava tudo o que se passava na minha vida. Claro. Tinha a Anne também, mas Anne nunca tinha tempo para fofocar. Sempre em função do bebê e namorado.
Depois do que eu contei tudo, levantei-me e fui sentar perto delas. Então nos abraçamos e nisso comecei a chorar.
Elas puderam entender o motivo da minha tristeza. Ter perdido a virgindade com um cara qualquer, mas que de certa forma me demonstrou carinho e afeição. Só por uma noite, apenas por uma noite.
Juli parecia inconformada com isso. Ela gostava mais de Alex do que eu. Deve ter achado injusto ele sair comigo, e não com ela. Mas não demonstrou, apenas estava do meu lado.
Quando contei a verdade à elas, a reação foi a mais espantosa do mundo. Maya me chamou de louca, mas que ao mesmo tempo eu deveria estar feliz por sair com um cantor, lindo e que pelo jeito tem "pegada". Juli falou a mesma coisa, que se fosse com ela, ela não estaria perdendo tempo chorando e sim, correndo atrás dele.
Mas elas não estão na minha pele para sentir o que eu senti.
Amor a primeira vista? NÃO.
Não existe amor à primeira vista. Existe atração, vontade de sentir o perfume, querer sentir o toque, o gosto do beijo. Existe aquela cena de filme onde os livros caem e os olhos de um procuram o do outro numa câmera lenta. Mas o amor, o amor vem depois. Amar é quando você suporta as manias do outro. Amar é quando você não se importa se o outro corta as unhas dos pés na cama ou se ele deixa a tampa do vaso sanitário levantada. Amar é quando você sente saudade da voz da pessoa. Amar é quando você dorme com a pessoa, na mesma cama, e nem se quer pensa em sexo. Amar é saber perdoar. Amar é não saber se quer amar, mas se arriscar. Amar é isso, ou aquilo. Vai saber. Amor à primeira vista desconheço, mas amor parcelado... esse sim é real.
Então fiquei pensando o que seria paixão, ou amor. O que eu estava sentindo...
Me veio em mente um laço, um simples laço.
Como é engraçado... Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço. Uma fita dando voltas? Se enrosca, mas não se embola. Vira, revira, circula e pronto: está dado o laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer lugar onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço. Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço. Ah! Então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento? Como um pedaço de fita? Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços. E saem as duas partes, igual aos pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço. Então o amor é isso… Não prende, não escraviza, não aperta, não sufoca. Porque, quando vira nó, já deixou de ser um laço.
Cheguei a conclusão de que estava louca. Talvez de paixão.
Mas a gente espera, lá no fundo, perdido, soterrado e cansado, que a vida compense de alguma maneira... E essa maneira eu estava esperando há tempo.
Depois de muito papo vai, papo vem, Juli e Maya se despediram de mim e foram embora.
Naquela noite, quando retornei para o meu quarto, agarrei meu travesseiro, senti saudades. Foi estranho.
Adormeci.
Minha semana foi de pura alegria, muitas conquistas. Faculdade dando certo, emprego de cara nova.
Eu era outra pessoa. Uma pessoa que ao mesmo tempo era feliz, me sentia realizada, mas lá no fundinho eu sentia falta dele... E isso machucava muito.
Logo chegou sexta. A noite veio e fui à um barzinho alí perto de casa. Sozinha mesmo, eu e a solidão. Então cheguei no balcão queria beber para esquecer de todos os problemas.
- Uma dose de Whisky com gelo por favor. Não misture, quero algo amargo. Preciso de algo que combine com a vida. Nessa noite essa bebida é minha unica companhia. E mais tarde, vou ter a companhia de uns livros. E a madrugada, meus cobertores me tirarão um pouco dessa solidão. - Disse determinada para o garçom.
Pude notar seu olhar de espanto com essa frase.
Enquanto ele fazia minha super dose, chegaram duas belas moças no mesmo balcão que eu. Muito bem vestidas e perfumadas. Fiquei olhando para elas e quase que imediatamente puxei assunto. Queria novas amizades então estava sendo apenas sociável com todo mundo.
Sentaram do meu lado e pediram a mesma dose companhada de gelo, e energético.
Foi aí que me apresentei.
- Vejo que não sou a única que quero esquecer os problemas. - Falei com os braços debruçados sobre a mesa.
Elas olharam para mim, com uma cara de "não te conheço". Mas foram simpáticas.
A primeira moça, muito bela se apresentou como Geni. A segunda que estava ao lado dela, também muito bonita se chamava Ana.
O nome Ana me lembrava de Anne. Mas eu nem sabia por onde Anne andava... Não nos falamos mais desde a última vez.
Minha dose chegou. Então pude apreciar meu Whisky como nunca. Que delícia.
Eu, Geni e Ana começamos a conversar, debater sobre os problemas e bebemos também.
Pedi o número delas e dei o meu. Realmente adorei conversar, me distraí muito. Afinal, eu estava precisando disso.
Dei um beijinho de despedida e fui para casa. Chegando em casa me joguei no sofá e liguei imediatamente a TV. Procurei por filme bom, e nada.
O que eu tinha falado para o garçom lá no bar, de que iria ler... era papo furado. Eu gostava de ler, mas não depois de beber Whisky puro.
Estava passando só romance e drama na TV. Pra quê melhor né?! Que beleza...
Imediatamente uma frase dita em um filme de romance me chamou a atenção.
Era algo assim.
"Joana nunca gostou de receber flores, queria mesmo era receber sementes. Acha mais romântico ver algo nascer do que murchar rapidamente."
Fiquei pensando naquela frase como nunca. Pois era a realidade. Eu já estava admirando Joana.
Eu já estava admirando o mundo.
Adormeci ali mesmo.
Sonhei com ele. Meu sonho foi tão bom, eu não conseguiria explicar para ninguém, somente eu poderia entendê-lo.
Despertei assim que o sol invadiu a sala.